A Brusone é causada pelo fungo Pyricularia oryzae, que infecta mais de 50 espécies de plantas, incluindo o arroz, trigo, cevada, milheto, aveia e outras gramas cultivadas e não cultivadas, como a brachiaria. No Brasil, a doença foi relatada no ano de 1985, em Londrina, PR. Desde então, epidemias severas ocorrem esporadicamente em regiões menos frias, incluindo os estados do Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo e Goiás. Apesar de ser pouco comum sua ocorrência em folhas, e não haver relatos de perdas de produção por este motivo, na safra 2019 ocorreu uma severa epidemia de Brusone em folhas, levando a perdas de 100% em algumas áreas no Cerrado, e no geral, estima-se que a redução de produtividade de trigo girou em torno de 70%. Pesquisadores que trabalham com esse patossistema acreditam que o maior volume de chuva e temperaturas mais altas podem ter favorecido a severa epidemia, mas ainda é necessário mais estudos para comprovar a hipótese. Na América do Sul, a doença já foi relatada na Argentina, Paraguai e na Bolívia. Em 2016 foi relatada a ocorrência em Bangladesh, na Índia em 2017 e recentemente na Zambia em 2018. A presença da doença preocupa as instituições governamentais e privadas, visto que a Ásia é a segunda maior produtora de trigo do mundo, e a Brusone é uma grande ameaça a produção de trigo. A ocorrência de Brusone nessas regiões asiáticas obrigou os produtores a tomarem medidas extremas de controle, em alguns casos, o trigo deixou de ser cultivado por tempo indeterminado. A dificuldade no manejo dessa doença, é que o patógeno tem uma ampla gama de hospedeiros alternativos, que servem como reservatório de inóculo para a safra seguinte.
O sintoma mais comum da Brusone do trigo ocorre nas espigas, partindo de pequenas lesões elípticas ao completo branqueamento da espiga a partir do ponto de infecção no tecido da ráquis. Neste local, ocorre a interrupção da translocação de água e nutrientes na espiga, o que facilita a sua desidratação e impede o pleno enchimento dos grãos, deixando-os chochos. A grãos infectados apresentam-se deformados e graus variados de chochamento. Nas folhas, as lesões apresentam o formato elíptico, com o centro acinzentado e com as margens apresentando a coloração marrom-escuro. Nestas lesões, geralmente é possível observar a esporulação do fungo, inóculo esse que pode favorecer a ocorrência de ciclos secundários da doença e infectar as espigas.
A Brusone é uma doença policíclica, o que significa que o patógeno pode completar vários ciclos de vida em um mesmo ciclo do trigo. O ciclo do patógeno se inicia quando os conídios (inóculo do fungo) são produzidos em lesões em folhas, espigas ou hospedeiros alternativos. O inóculo é disperso através do vento (curtas distâncias) e por sementes infectadas (longas distâncias). Os hospedeiros alternativos são a principal fonte de inóculo inicial de Pyricularia oryzae no período de entre safra, já que o período de sobrevivência nos restos culturais do trigo ocorre por poucos meses. As condições meteorológicas ideais ao processo infeccioso da doença é alta umidade relativa do ar ( ≥ 92%), temperatura em torno de 28°C e molhamento foliar de 10 horas. Nessas condições os esporos que atingiram superfície vegetal sadia, podem iniciar o processo de infecção e colonização dos tecidos da planta, tendo sintomas visíveis em até seis dias após a infecção. Então, os esporos produzidos são dispersos pelo campo, podendo infectar a mesma planta ou outras vizinhas. O fungo pode sobreviver em materiais vegetais doentes de trigo como saprófito por poucos meses, ficando viável por até seis (6) meses. A principal forma de sobrevivência do patógeno é nos hospedeiros alternativos cultiváveis ou naturais, como aveia, cevada, azevém, centeio, sorgo e outras gramíneas forrageiras. A depender das condições meteorológicas, nível de resistência da cultivar, aplicações preventivas de fungicidas podem começar na fase de espigamento ou pré-floração do trigo. Mas o ideal é seguir as recomendações técnicas do Engenheiro Agrônomo da região.
O manejo da Brusone do trigo, folha e espiga, requer a integração de medidas de controle como o uso de cultivares com maior nível de resistência, utilização de sementes sadias, tratamento de sementes com fungicidas, escolha da melhor época de semeadura (evitar que o espigamento do trigo coincidência com as condições favoráveis ao desenvolvimento do patógeno) e a utilização de fungicidas na parte aérea das plantas. Entretanto, as medidas adotadas para o controle da doença não têm sido completamente efetivas, visto que as cultivares de trigo disponíveis atualmente não apresentam um grau satisfatório de resistência, e o controle químico tem apresentado indícios de perda da eficácia dos principais fungicidas. Portanto, o manejo integrado da doença é importante, como optar por cultivar com maior nível de resistência, rotação de principio ativo de fungicida, e observar as épocas de semeadura recomendadas para cada região.